Queda de prefeituras expõe desafios da esquerda no cenário político municipal

Lula, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) e o candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, em carreata na véspera do primeiro turno: esquerda caiu em número de municípios

Ao longo dos últimos 12 anos, os partidos de esquerda têm enfrentado um grande desafio, marcado pela expressiva queda no número de prefeituras sob seu comando. Nesse período, PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL, que anteriormente governavam uma parcela significativa dos municípios brasileiros, viram esse número cair drasticamente, chegando a uma redução de quase metade. Consequentemente, essa diminuição levanta uma série de questões não apenas sobre a relevância política atual dessas siglas, mas também sobre sua capacidade de se reconectar com o eleitorado e recuperar o espaço perdido nas eleições municipais.

Vitória de Lula não reflete crescimento nas prefeituras

Embora o PT tenha retornado à Presidência da República com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, o número de prefeituras controladas pelo partido e outras siglas de esquerda permanece bem abaixo do esperado. Em 2012, esses partidos governavam 1.468 prefeituras em todo o país. No entanto, em 2024, esse número caiu para 724, ficando muito aquém de partidos como o PSD, que sozinho conquistou 878 prefeituras. Esse cenário ressalta que, apesar do sucesso nas eleições presidenciais, as siglas de esquerda têm enfrentado dificuldades para se firmar nas disputas municipais.

Dificuldade em adaptar o discurso ao eleitorado

De acordo com o jornalista Thomas Traumann, ex-ministro da Secretaria de Comunicação, a vitória de Lula em 2022 não pode ser interpretada como um “retorno triunfal” do PT. Ele explica que essa vitória foi mais uma reação do eleitorado contra Jair Bolsonaro do que um apoio incondicional às pautas tradicionais da esquerda. Traumann destaca que muitos eleitores de Lula, especialmente em São Paulo, não se identificam com líderes como Guilherme Boulos, evidenciando que existe uma desconexão entre o discurso progressista e o perfil mais conservador de parte dos eleitores.

Diante desse cenário, especialistas argumentam que a esquerda precisa revisar sua estratégia. Segundo Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva, os partidos progressistas devem direcionar sua atenção para as questões práticas que afetam diretamente a população, como geração de emprego e melhoria da qualidade de vida. Ele sugere que, ao invés de focar apenas na polarização ideológica, a esquerda deve dialogar mais com os valores de empreendedorismo que permeiam a classe C, um segmento essencial do eleitorado brasileiro.

Exemplo de sucesso em Contagem

Apesar das dificuldades, existem exemplos positivos que mostram como a esquerda pode se reconectar com os eleitores. Marília Campos, prefeita de Contagem, é um desses exemplos. Reeleita com 60% dos votos, ela defende que a esquerda deve adotar um discurso mais universalista, voltado para resolver os problemas concretos da população, como saúde, transporte e educação. Marília argumenta que, ao se concentrar nas necessidades reais do eleitorado, a esquerda pode superar a polarização e oferecer um projeto que dialogue diretamente com o eleitor comum.

Portanto, para recuperar sua força nas prefeituras, a esquerda precisará ajustar seu discurso e focar em questões que reflitam as demandas diárias da população. Somente assim os partidos progressistas poderão reconquistar sua relevância no cenário político municipal.

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